“Cheguei a contar de trinta ... Quarenta carroças paradas debaixo da mangueira se preparando pra voltar a tarde pela estrada da Fontinele. De manhã não dava pra contar porque elas vinha pra rua muito cedo”
( Francisco Araújo, seu Neném)
Estradas de barro no meio do capinzal. Anuus saltitando em campo aberto. Sol a pino. De longe elas vinham gemendo. Carregadas. Feito velhas beatas murmurando benditos. Eram caixas de madeiras puxadas por bois obesos. Mansos. Lesos. Lerdos. Com nomes próprios. Quase da família. E as carroças eram lentas mas frequentes. Faziam parte do cenário. Entupidas de goma, carvão, mandioca, bananas, galinhas e pessoas. Deixavam veias esculpidas nos chão. Marcas de pneus desenhando destinos. De geração para geração... Famílias inteiras tangendo os bois e estalando chicotes. Cigarras suicidas se esgoelando. A canção dos gemidos se misturava ao silêncio do vilarejo semi-despovoado. Semi Vivo. Pra curar a dor dos pneus o grafite do carvão. As carroças e seus gemidos perambulavam rua acima rua a baixo. A rua era apenas um rascunho.
(Marcos Fernando, Fragmento do Projeto de Bela – flor a Epitaciolândia)