O beijo da fera
Na beira do garapé “No Haya”, onde uma bichana arrancou a cabeça de um caboco com um tapa, sentei no barranco e preparei um porronca. Ao longe uma nanbu azul apitava triste parecendo um navio gaiola de partida. A minha barriga gemia se contorcendo numa trágica coreografia da fome. Ergui meus olhos pro céu. Só avistei a copa das árvores. Eu não tinha a menor idéia de onde me encontrava. Meus pés queriam se libertar dos sapatos. Com um espinho de taboca e uma envira de Toari improvisei uma linhada. Quebrei um coco de ouricuri e fiz uma larva de isca. Joguei a linha nágua. Me encostei numa supupema. Abraçando os joelhos cochilei com os pés sujos, o corpo suado e a alma aflita.
Alta madrugada despertei com um presentimento. Meus queixos tremiam. A friagem dava o ar da graça. Um onça esturrou nos meus ouvidos estremecendo meu coração. Um arrepio correu meu corpo. Senti o cheiro da morte. Um bafo de carne e sangue.
Eu que só sabia rezar pela metade me apeguei a Deus por inteiro. Meu coração parecia o de um passarinho dentro da arapuca.
Estava eu e a bruta frente a frente…
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segunda-feira, 28 de julho de 2008
domingo, 27 de julho de 2008
. d partida
De onde eu vim
As pessoas dormem cedo
Carregam
Nas costas as marcas
Das desgraças
E pagam os pecados
A vista
Invés de cartão de crédito
Têm cartão do bolsa escola
De donde eu vim
Quem não tem pode mais
E que tem perde tudo com medo de perder
Eu vim de lá de onde o vento faz
A curva
Da donde a friagem esturra
Feito onça gozando
Eu vim de dentro
Da dor e do amor
Marcos Fernando
quinta-feira, 24 de julho de 2008
A arte de semear
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